Os Estados Unidos guardam certa semelhança com a Rede Globo de Televisão quanto à rejeição que despertam. A diferença está apenas na escala: enquanto a Globo é alvo de antipatia dentro do Brasil, os Estados Unidos enfrentam esse sentimento em nível global.
É comum ver quem não conseguiu trabalhar na Globo transformar a frustração em crítica ferrenha à emissora, acusando-a de manipulação ou de influências negativas. Entre grupos religiosos, o incômodo é ainda maior, principalmente pelas cenas consideradas ousadas em novelas e programas.
De modo análogo, os Estados Unidos são frequentemente apontados como culpados por quase todos os males do mundo: guerras, exploração de povos humildes, apropriação de riquezas e intervenções em outros países, muitas vezes ignorando normas do direito internacional.
Apesar disso, pessoas de todas as partes do planeta continuam tentando viver justamente nesse “pária do mundo”. O país é alvo de repulsa e desejo ao mesmo tempo. Brasileiros chegam a pagar mais de cem mil reais, atravessam rios, arriscam a vida e o pouco que possuem para tentar viver irregularmente lá. Correm o risco de perder o dinheiro, serem presos ou deportados, e ainda assim insistem. Muitos desses críticos se enquadram bem no ditado popular: “quem desdenha, quer comprar.”
Em janeiro de 2025, Donald Trump tomou posse para o segundo mandato e intensificou a política de deportação de estrangeiros irregulares. Brasileiros estavam entre os deportados, em aviões lotados que voltavam ao país de origem. As críticas surgiram de imediato — primeiro, pelo fato de os deportados estarem algemados, sem sequer se dar conta de que o Brasil também deporta estrangeiros da mesma forma.
Logo o debate se deslocou para o campo ideológico: o endurecimento migratório era atribuído à direita no poder. Mas bastou uma comparação de números para mostrar que o governo de Joe Biden, seu antecessor democrata, havia deportado ainda mais pessoas do que no primeiro mandato de Donald Trump.
Curiosamente, as críticas se repetem com o mesmo foco: os Estados Unidos deveriam aceitar milhões de imigrantes irregulares, como se fosse obrigação moral. Pouco se fala dos custos sociais e econômicos disso. Raramente se cita algum país que realmente adote tal postura. Nem o Brasil, conhecido por sua imagem acolhedora, permite tal liberalidade: exige documentação e devolve, também algemados, os estrangeiros em situação irregular.
Quando Donald Trump era visto como aliado da direita brasileira, era tratado pelos esquerdistas como a encarnação do mal. Bastou uma ligação telefônica, um encontro de trinta segundos e uma reunião sem resultado prático para que o noticiário nacional o transformasse novamente no centro positivo do mundo político.
No fim das contas, o “pária do mundo” continua o mesmo, com as mesmas práticas — apenas mudou o ângulo da conveniência. O Brasil, mesmo sendo claramente deficitário na relação comercial com os Estados Unidos, ajoelha-se para manter o vínculo comercial, esforçando-se para reduzir taxas de importação como se os americanos nos prestassem um favor, e não como quem tenta equilibrar uma parceria desigual.
