O futebol brasileiro vive um fenômeno preocupante: a chamada “espanholização” — termo inspirado na hegemonia de Real Madrid e Barcelona, que por anos dominaram o campeonato espanhol. Aqui, Flamengo e Palmeiras ocupam esse papel, monopolizando títulos, receitas e protagonismo. À primeira vista, pode parecer positivo ter dois clubes fortes, mas, a longo prazo, isso é extremamente nocivo para o futebol nacional.
Quando apenas duas equipes concentram os principais investimentos, a competitividade diminui. Os demais clubes, muitos já afundados em dívidas gigantescas — como o Corinthians, que ultrapassa os R$ 2 bilhões em débitos — ficam cada vez mais distantes de alcançar o mesmo patamar. A disparidade se amplia, e com ela surgem consequências diretas: queda de audiência, redução na venda de camisas, menos espaço na mídia e dificuldade para contratar bons jogadores. Se a polarização continuar nos próximos anos, o prejuízo será coletivo — inclusive para Flamengo e Palmeiras.
O futebol só cresce quando há competição real. O Brasil sempre foi reconhecido pela imprevisibilidade: grandes viradas, títulos improváveis e clubes emergentes que surpreendiam o país. É preciso recuperar esse espírito. A solução passa por organização, gestão profissional e responsabilidade financeira. Há exemplos inspiradores, como o Mirassol, que saiu da Série D, estruturou-se e, no próximo ano, disputará a Libertadores — prova de que planejamento supera improviso.
Se o futebol brasileiro quiser escapar da armadilha da polarização, os clubes precisam se reorganizar urgentemente. A diversidade de campeões fortalece o produto, cativa torcedores e movimenta o mercado. Quanto mais competição, melhor para todos. O futebol brasileiro é grande demais para caber apenas em duas camisas.
